Estar afastado para realização de um pós-doutorado no exterior, por um período pré-estabelecido de 27 meses representa uma experiência marcante na vida de qualquer profissional. As atividades relacionadas aos aspectos técnicos do trabalho de pesquisa servirão de motivação e novas fontes de dados para as aulas e para outros projetos, bem como subsidiarão, quem sabe, novas disciplinas, adaptadas às situações e necessidades brasileiras. Porém, foram assuntos proporcionados a partir dessa vivência e contatos fora do país.
Junto com isso, baseado no compromisso feito com o supervisor do pósdoutorado e atendendo ao que é recomendado pelos órgãos que financiaram as bolsas, CNPq, FAPESP, Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pós-Graduação em Pesquisa (ambas da UNESP), aos quais sou muito grato, escrevi artigos científicos relacionados ao programa de estudos. Serão publicados brevemente, assim espero.
Além disso, esse período me permitiu realizar outra necessidade, de caráter bastante pessoal e desta vez sem vínculo direto com minha atividade na UNESP, porém, associada a ela. Foi como se tivesse montado uma ligação direta, aberto um canal de voz com a comunidade acadêmica da Faculdade de Ciências Agronômicas, em Botucatu. Tive oportunidade de desenvolver meu gosto pelas crônicas – ler, e agora, escrever.
Assim, arriscando-me a assumir mais um compromisso no exterior, acertei com a equipe da assessoria de imprensa da FCA, Sérgio e Aline, de enviar um artigo semanal para ser publicado no site da faculdade. Nunca havia assumido tamanho desafio literário, afinal, não sou profissional da área, escrevo apenas por hobby, e a responsabilidade de produzir nessa freqüência, algumas vezes me colocou em pânico. Temia falhar.
Mas o prazer de escrever acabou superando o medo em todas as ocasiões em que parecia poder ser vencido pelo tempo e, no final, acabei terminando o compromisso com uma relativa folga, sem muito estresse. Bom sinal! Mostra que muitas vezes, ser premido pelo compromisso é bom e produtivo, e descubro que a vontade e o desejo de escrever prevaleceram, superando minhas expectativas iniciais.
Mas porque escrever algo que não tem praticamente nada a ver com os assuntos técnicos do pós-doutorado, ou ainda, passando bem ao longe de artigos da área agronômica? Afinal, alguém poderia questionar a validade de se ter outros assuntos num site de uma faculdade de Agronomia. Queria num primeiro momento, para justificar a inserção em site da faculdade, escrever sobre minha visão e as experiências vividas em Nova York, relacionando-as com alguma coisa que pudesse ser interessante para um futuro engenheiro agrônomo ou engenheiro florestal. Mas também queria escrever sobre outras coisas, deixar meu pensamento aberto, com liberdade para escrever.
A vida aqui é frenética, um lusco-fusco intermitente, correria e movimento, urbe pura. Mesclei informações, escrevi sim, algo sobre plantas, universidades, ensino e educação. Observei muito, cartazes, ruas, parques, estações de metrô, gente, muita gente, de todas as raças, diversidade cultural real, segregação nesse país da “igualdade de oportunidades”. Mas também escrevi sobre situações abstratas, algumas até inverossímeis. Pude ver também coisas frágeis, sua singeleza, silêncio tranqüilo escondido nas entranhas da megalópole, bastava querer ou mudar o foco do olhar.
Sim, também queria tocar as pessoas sobre outros assuntos ou dar outras percepções do que ocorre em suas vidas. Queria falar sobre alguns sentimentos; em outras vezes fui mais objetivo. Fui também brusco, outras vezes tênue. Concordei e contrariei, não faz mal, fui honesto. Mas também inventei e menti, pois todos têm esse direito, pelo menos uma vez na vida. Me expus, não tive saída.
Sou um aprendiz, sei disso e não me preocupo com isso. Melhor admitir essa condição sempre, isso mostra abertura para o novo. Quem nunca foi? Quem ainda não o é? Devemos assumir nossa condição. Sem medo. Perdi um pouco dele agora. Por um tempo, pequeno. Então, aproveitei e escrevi.
E, parafraseando Joaquim Ferreira dos Santos, todos os que fazem isso estão “espargindo sobre nossa sensibilidade o perfume suave contido no pequeno frasco da crônica”. Espero ter acertado no alvo, mesmo que com somente algumas poucas moléculas desse aroma.
- Editora: Fepaf
- Autor: Lin Chau Ming
- ISBN: 9788598187211
- Edição: 1
- Data de Publicação: 2009-01-01 00:00:00
- Número de páginas: 294